terça-feira, 28 de novembro de 2017

lápide





Somos pela nossa essência perigosos, rebeldes, indomáveis e acima de tudo pouco confiáveis. A mesma ordem perfeita e universal que rege a natureza não se aplica a nós humanos. Pelo contrário essa ordem da natureza que cinge o universo aprendeu a  temer toda a nossa raça precisamente porque nós não nos adaptamos a nenhum lugar. Nós transformamos esse lugar para podermos nos adaptar a ele, retirar dele tudo o que pretendemos a nosso belo proveito e depois de saciados, atirar com as sobras para um canto sem qualquer ponta de remorso. 
A raça Humana é tão agressiva que se tenta proteger dela mesma, criando mecanismos e tentativas de controle. A uma dessas tentativas chamaram-lhe sociedade, criaram regras e leis, criaram forças de autoridade por se ter a certeza que logo seriam prevaricadas e construíram prisões, publicitadas com carga negativa para se ter medo. E vivemos todos obedientes, com medo dessa instituição e cientes que ninguém quer ir para lá. Por se ter tão bom resultado ( leia-se prisões cheias de indivíduos que não esconderam a sua essência bestialmente humana,) criamos outras formas de prisão, sem edifícios a que deram o nome e trabalho, emprego, casamento, lar, convivência e sim...Vamos andando em rebanho, mas como somos mais bestiais que uma besta, apenas aguardamos uma oportunidade ou uma vontade alheia para rasgarmos convenções, faltarmos à palavra e voltarmos a ser o que sempre fomos sem máscara...Animais!
 O grande problema dessas tentativas de controle deriva de as mesmas serem aplicadas e policiadas por outros humanos ( aí está a ironia da coisa), logo a chance de ser algo perfeito perde-se rapidamente no mínimo conflito de interesses.
Regras! Leis! Obrigações! Para quê? Para no fundo se ter a certeza que mais cedo ou mais tarde, um de nós as quebrará. Será tipo a armadilha para coelhos dos caçadores. Montam a dita num local óbvio, adornam-na de forma a ficar cativante, a dar segurança e sentam-se atrás de um arbusto de cigarro no canto da boca à espera da próxima vítima. Porque havendo coelho por ali, seguramente em alguma altura cairá na armadilha. Como poderia não cair? A tentação é tão grande quando nos dão a sensação de segurança necessária.
Assim como o casamento. Um contrato celebrado, um pedaço de papel assinado num local majestoso, coberto de santos e anjos que na verdade ninguém pode assegurar que as suas feições seriam mesmo assim, uma festa de arromba com inúmeros convidados ( no fundo testemunhas involuntárias de um despiste há espera de acontecer ao longo dos próximos anos) entre duas almas que se juram amar até ao fim dos seus dias, que juram se apoiar na doença e no infortúnio e caminhar lado a lado em direcção à felicidade...Dura enquanto a ilusão da segurança o permitir. À mínima contrariedade, à mínima hesitação ou ao mínimo amuo, tudo é colocado em jogo. Na prática passamos a partilhar um espaço, uma casa e uma cama com quem julgamos conhecer. Não cientes disso ainda arrastamos a família dos dois lados, os amigos, os gostos moldados de forma a minimizar choques e vamos sobrevivendo nesta aventura estranha de sermos guiados só porque sim, só porque ele/ele quer, só porque tem de ser e embarcamos na inglória tarefa de conseguir um emprego mal pago, mal gozado, mal amado, só porque temos um lar a manter. E o lar aumenta de lotação e o salário desce vertiginosamente nas montras mais próximas das necessidades dos novos residentes e farmácias e vacinas e escolas e roupa. Chuva, sol, frio calor, carruagens de comboio cheias, pequenos-almoços mal digeridos, horas de ponta enfiados qual cardume em cativeiro, nas deslocações de um cubículo ( trabalho) para o outro ( casa). Choros, gritos, refeições inacabadas, chão da cozinha com todos os vestígios de comida que o mais novo pintalgou com a colher irrequieta na mão. Televisão sem som, vinho sem sabor, arroz quase cru, pequenos pedaços de pão mordidos à pressa e nunca o silêncio.
Nervos à flor da pele, crispações só porque o puto arrotou à mesa ou não quer comer a sopa. Anúncios de castigos maiores ou piores caso não a coma ( a armadilha da multa, do castigo como forma de submeter a fera ao nossos caprichos ou convenções) a inércia da cama parada com dois corpos de costas voltadas em repouso. Casamento....
Depois a lotação da casa esvazia, deixa de ser um lar. Torna-se abrigo de horas para o dia-a-dia, uma pausa forçada entre horas de trabalho. Já não há berros e gritos de petizes. A televisão tem o volume moderado e trocamos a gritaria por monossílabos atirados à força para cima da mesa na ânsia de que nos deixem em paz. Falta de temas, falta de palavras. procuramos um pretexto para falar de alguma coisa que não seja o dia-a-dia eu a querer falar de futebol, tu a quereres comentar o que a tua amiga de infância concluiu acerca de qualquer assunto. Enfado...
Deixamos de nos sentar à mesa. A Maria prepara a refeição e deixa-a embrulhada em jornal. O primeiro que chegar a casa come e vai à sua vida. Já não se liga a televisão da cozinha, já não se perde tempo, mas invariavelmente também não se ganha. Desperdiça-se esse tempo  enfiado num sofá ou ao telefone com alguém e vai-se para a cama, para os lençóis frios e mecanicamente a cabeça já está a pensar no dia seguinte, com a ilusão de que amanhã será sempre um grande dia. 
Mas palpita-me agora que tu já sabias disto tudo. Estou agora certo que tu saberias que amanhã seria o teu grande dia, quando ressonavas a meu lado, dando-me a ilusão que seria apenas uma noite igual às outras. Merda, até o mais insano do criminoso tem direito a uma última refeição, a um último desejo e tu nem um beijo de despedida. E assim que basicamente a construção de açúcar de um branco imaculado doce se desmoronou em horas. Sem aviso prévio, sem grande publicidade. Caiu como um prédio aparentemente robusto mas roído pelo rato no tempo nos alicerces de anoso teu lado, tipo velório de corpo presente. Eu estático a olhar para ti e tu apesar de parada, estavas com esse teu cérebro criminal a congeminar o dia do golpe fatal. Mais concretamente o dia e a hora em que me aplicarias o golpe, qual cirurgião experiente de forma a não me matar, mas a deixares-me esvair em remorsos e culpa, sem piedade.
Piedade... De início foi o que pensei das intenções da nossa Maria, toda solícita para comigo. Eu que mal a conhecia, que nem ligava à sua presença no nosso lar, que não me importava sequer com o trabalho dela enquanto nossa criada ( eu resisto ao termo de empregada), desde que o mesmo aparecesse feito, de forma a que besta como sempre fui, me servisse e usasse esse tempo que ela desperdiçava a engomar as minhas camisas, a lavar as minhas cuecas, a esfregar o chão da casa de banho ( as tuas paranóias cirúrgica Leonor sobre os "bichinhos", germes e afins do WC ) e no entanto ela continuava transparente, invisível aos meus olhos.
E agora que me encontro no chão da cozinha, manietado,chupado, urinado, gozado e de lâmina encostada no pescoço pela mão da violada Maria, tento recordar num qualquer flash cinematográfico a ultima vez que realmente me levaste ao mais recato orgasmo. Pois não me lembro! 
Mas a Maria de sexo húmido, mamilos erectos e de pernas abertas, beija-me repetidamente, talvez admirada pela rigidez do meu membro espetado, voluntário para todo o serviço, pronto a lapidar diamante se a isso fosse obrigado e corta-me ao de leve no ombro. Sinto a ponta da faca a cortar-me a pele, sinto tudo com uma intensidade medonha, penso que só queira ver sangue. Fala algo repetidamente talvez na secreta esperança que a ouça, chupa-me o ombro, cospe-me na cara, ri e fala gesticulando...A faca ensanguentada a desenhar círculos imaginários no ar, aplica outro golpe descendente sobre o meu peito, incidindo apenas a ponta da lamina acima do meu mamilo e eu berro de dor ( ou será prazer?) e ela ri. Viro a cara para o lado, numa desobediência silenciosa e ela reage agarrando-me no queixo, forçando-a a olhar de frente ...Afinal é o Show dela!
Tento me levantar, não para fugir, não para me defender, mas para dar descanso aos músculos da perna que irrompem num formigueiro de inactividade, fruto da posição a que foram forçados. Ela responde com uma ponta do pé, atirada sem remorsos às minhas partes baixas e eu berro e gemo e ela cala-me a boca, colocando a vagina nos meus lábios, na minha boca, "lava-me!" parece dizer ela excitada com a minha primeira reacção ou tentativa de parar aquela loucura.
Sinto na boca toda a perversa inquietude do seu sexo febril, num fluxo de gozo, mel de tesão na minha língua de urso amestrado,. Se é para ser assim, que o faça convenientemente. Ergo o indicador da mão direita e espeto sem contemplações e o anelar e sei lá, mais dedos ou menos dedos ela geme, monta-me os dedos em uivos sonoro, contorce-se e monta-me como se eu fosse um Equus Ferus, um Tarpan pronto a levá-la a galope pelas planícies mais verdejantes da mente.
Sobe e desce em mim, repetidamente e loucamente, murmura-me coisas, morde-me o lóbulo da orelha direita, cospe-me, morde-me a maçã do rosto, puxa-me os cabelos e eu rijo, hirto, competente, frenético, possante, demente...
E gozo, escorro tudo o que tenho, numa taquicardia ritmada com a velocidade do desejo. Cara Maria violadora do meu corpo, já não tenho forças! Já não me sinto, já não me tenho, já não me envergonho. Vai-te e deixa-me aqui ensanguentado, esvaído em prazer, ou então faz o que bem entenderes, mas por favor não me fodas mais, que eu já não aguento!

quarta-feira, 22 de novembro de 2017

lapide insano






E o orgasmo açúcar em ponto espadana a crescer
no calor do abdómen...
Sussurrando que o Amor é um homem incompleto...
Implorando silêncio, compreensão
e um tempo que transpira pelo chão, ofegante...

http://librisscriptaest.blogspot.pt/2011/06/entrega.html




ALMA MATER


Há nas existências mundanas de vidas sujas, gastas ou pardas uma clarividência de que há algo de majestoso, de incompreensivelmente belo e perfeito que nos faz chorar da nossa mortalidade e da nossa existência.
Todos nós temos uma dimensão oculta. Uma dimensão escondida, uma dimensão submersa. Um lugar profundo onde só entra quem estiver convicto da sua existência cósmica.
Sempre fui profundamente católico, ou pelo menos sempre bebi dessa fonte de vida que é a magnitude da alma, do ter de ser assim, do conceito católico do bem, do ser-se íntegro em caminhos tortuosos e labirínticos do facilitismo, da chico-espertice, da maledicência.
Respeito os outros, independentemente de esperar esse mesmo respeito da parte deles e sigo a minha regra dourada de que são as pequenas acções, leia-se as boas acções, a alavanca para mudarmos o Mundo. Não me considero santo ou exemplo, sou como sou apenas porque o quero ser e esse é o meu caminho.
Sempre fui assim, mas hoje...Hoje não me reconheço, não me mereço, não me recomendo.
Bestialidade de duas pernas, servo da lírica de Thomas Hobbes, sou mau como qualquer animal selvagem amedrontado ou magoado. Hobbes é que a sabia toda, nascemos maus, somos bestas e um dia a mão que nos segura, a mão que nos ampara e nos guarda a Alma Mater da minha situação enquanto ser moralmente frágil,desaparece, some qual D.Sebastião e perco o Norte, perco o rumo, solta-se a fera, acorda-se a bestialidade contida em mim. Soou mau, não porque posso, mas porque já não me seguras.
Maria, minha santa Maria da perdição, que estavas no lugar errado à hora errada. Porque não te foste embora? Porque não percebeste que um homem desesperado faz coisas impensáveis, imorais e profanas? Acaso achas que se fossemos todos certinhos, a igreja teria criado o confessionário? Ah Maria agora fodida de face sentida e cara de dor que não se me acalma este meu torpor.
Há minutos atrás ataquei-te, rodopiei o teu corpo ante a tua tentativa de fugires do meu ataque e te estirei na mesa, com o meu prato de ovos mexidos que tão piedosamente me serviste a servir-te de almofada, enquanto me debato com estas tuas calças que não querem me obedecer, ansioso por ver o destino final, o local correcto onde irei depositar o meu mastro latejante e quente. Sim, doce Leonor, se me estiveres a ver agora pela câmara, prepara-te! Aposto que já não me sabias capaz de ereções espontâneas, da magnitude fálica que sempre te penetrou. Aposto que não me sabias capaz, de segurar umas costas de alguém com uma mão, forçando-a a dobrar-se sobre o tampo da mesa, a afastar pernas dela com os meus pés, largo o cabelo dela com a outra mão para poder firmar o membro e meto numa estocada seca, sem grande preparação, a frio como se costuma dizer. Vou repetindo, cada vez mais convicto do meu papel nesta operação, cada vez mais confiante, procurando o teu seio esquerdo espalmado no tampo a imitar carvalho. Claro que ela, a suave Maria em contrição manifesta verbalmente a sua dor, todo o seu pesar por não me ter abandonado como tu o fizeste carnívora Leonor de ânus por mim arrebentado. 
Queria falar algo, desculpar-me, assegurar à minha vitima a importância deste meu acto. Sossegar a insípida Maria que toda e qualquer responsabilidade deste infortúnio se deve à cabra da minha ex-esposa, que me deixou sem rédea, à solta no apartamento, com àlcool, humilhado, confuso e sedento de descarregar esta raiva, este ódio cego em alguém.
Mas por favor não te julgues inocente em todo este pequeno drama. Tu, empregada a dias que tantas vezes me lavaste as cuecas, que me deste de comer, tu que tens o desplante de ficares a sós comigo, mesmo depois de veres o meu estado deplorável. Que tens a falta de bom senso de me barrar o caminho quando ainda podia fugir e me mostras essa camisa de botões abertos. Que querias tu? Quem vai para um funeral de uma vida conjugal de botões de camisa abertos e mamas enormes? Culpada portanto e este júri não se comove com gritos e choros de lamentações só com grandes penetrações.
E sabes incrédula Leonor,  eu faço o meu papel nesta improvisação caseira, faço o meu melhor apesar dos meses de intensa inactividade a que me sujeitaste e faço-o pela sapiência de me ter mantido minimamente activo na palma da minha mão, em jactos perdidos, lamentos desperdiçados em magma branco na tua preciosa banheira de hidromassagem redonda que me custou uma fortuna e na qual nunca consegui tomar um banho de emersão tranquilo, com medo de escorregar pelos degraus, sem sítio onde me agarrar, como uma ilha perdida num imenso lago azul. pois agora dou graças a todos os Divinos, (sim porque para me entenderem têm de haver necessariamente  mais que um já que como tu dizias eu torro a paciência a um santo!) pelos meus pequenos ensaios, pequenos treinos tipo cem metros livres.
Talvez por isso ou devido a isso, os primeiros passos são desastrosos. Peço que me desculpes o desatino infortunada Maria. Ao fim de poucas estocadas ele cospe, cansado e admirado. Cospe-te dentro das entranhas em esguichos regulares, talvez assustado de tanta acção em corpo estranho, o probrezito que te martela como martelo pneumático, na insana dimensão de toda a minha loucura.
Repito a operação, sinto que já não me apertas o caminho, que já não dificultas a intromissão da cobra devoradora que poderia ser a de Hobbes em Leviatã , mas desta vez com mais empenho, espantado por ainda não ter regressado à sua forma natural e abrando o marcha, incito o teu ânus com o polegar esquerdo, talvez seja a minha forma de te preparar para o meu mais recente devaneio, verto alguma saliva. Tu, aflita Maria olhas-me de relance, já não choras, já não gritas mas o teu olhar é ainda de incompreensão, ou pelo menos assim o interpreto e mudo de destino, busco esse orifício negro e entro sem ser convidado numa última erecção digna desse nome e jorro num suspiro em forma de grito, pouco depois de ter visto o corpo do meu sexo desaparecer dentro do teu ânus.
Toda a energia gasta no assalto ao castelo trouxe consequências imediatas ao meu corpo. As pernas tremeram, sacudiram em espasmos musculares, como varas de bambu ao vento e sem ter a ousadia de te olhar Maria comida, deixei-me cair de rabo na fria tijoleira cor de creme, secando com as costas da mão direita o suor que me percorre o rosto, indiferente ao teu castigo, à tua revolta, ao teu pranto de virgem ofendida. Na verdade permito que me castigues da forma que o pretenderes, mata-me até se o entenderes, era um favor que me fazias. Salvavas um casamento ao me fazeres desaparecer do mapa, Leonor voltaria para o seu trono, iria gerir e muito bem este incidente, atribuindo-me o papel de tirano, desculpando-se para todo o sempre perante os nossos filhos, que não poderia de facto partilhar mais o tecto comigo, com esta minha loucura. Ela provavelmente inventaria agressões nocturnas, violações forçadas e se escudaria no meu comportamento nas ultimas horas. Assim, o Miguel quando viesse a casa dos pais agradeceria à mãe todo o sacrifício que fizera  em me aturar, em me desculpar até onde pôde.
Observo os teus pés a firmarem posição no chão, ouço as calças a subirem e sinto a tua atenção a virar-se para mim. Sinto que me observas. Estarás a estudar-me ou a defender-te de mais um súbito ataque. Dizes algo num sussurro que não ouço, levantas-te lentamente e espero o pior. Um pontapé na cara? Um soco? Uma cuspidela? Recordo que deixei os talheres na mesa...Uma facada? Não me importo, pois se for que seja, tu safas-te bem. Alegas legítima defesa e acabas com isto...
Caminhas até mime para minha surpresa vejo que não te estavas a vestir, mas a despir o resto das calças. nada dizes, abres as pernas, levas o teu sexo à minha face, agarras-me os cabelos e esperas a minha língua. Não compreendo mas obedeço. Paras e me agrides com uma bofetada forte e voltas a pedir língua e voltas a agredir-me com um estalo e voltas a pedir língua abrindo-a de seguida, afastando os lábios vaginais regados com o meu sémen, pedindo-me um dedo, dois e voltando a sentares-te na minha boca e então tão inesperadamente quanto o meu ataque afastas a minha face e urinas-me, num imenso rio amarelo que desagua pelo meu peito.
Vejo de relance a faca na tua mão e então eu sorrio e grito-te a plenos pulmões...Mata-me!

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

CUM OVER....



Aguardo que a quietude do silêncio caia sobre este lugar. Miro ansioso as teclas como que procurando o fio condutor de tudo aquilo que poderia dizer, em palavras únicas, regadas de prazer, com lânguidos suspiros de desejo. Aguardo no fundo o salvo-conduto para o Mundo, o meu Mundo onde me perco, onde me encontro, onde me entendo, onde me raciocino e sobretudo onde te desejo.
No silêncio dos sons, vou-te buscar no exacto momento em que o tempo pára, pétala a pétala, linha a linha, frase a frase, sonho a sonho. Abro a porta dos sonhos, e trago-te para o meu regaço, onde me sussurras ao ouvido, não com sons mas com suspiros, brisas de vento que me tocam, me rodeiam, me tacteiam no manto negro da noite  As palavras crescem devagar por entre as teclas,no meu martelar irregular no teclado, em ramos invisíveis e místicos, mas só depois do calor dos teus lábios e mãos invisíveis, me cercarem , me afagarem , e somos nós, unos e indivisíveis , sujeito e predicado, complemento do desejo, na gramática do entender, porque existem sombras que se vestem de nós e te revejo em qualquer canto.
A cadência clean do texto simples, com o teu perfume, a tua espectral presença desvia-me o sentido, acentua-me a pontuação e deixo os caracteres correrem livremente, como um pianista sem rédeas. O corpo sabe caminhos que a razão desconhece, levantando-se num querer fálico e eu deixo-o crescer, manifestar-se...Há dias em que nem sei se existes ou se fui eu que imaginei, que te criei. Personagem de um dos meus contos Então mentalmente projecto-te aqui,sentada de vermelho, gota de sangue da vida num fundo escuro da sala...Liberta-te, ordenas tu em pensamento, percepção extra-sensorial do meu querer, e eu solto-o, farol de todas as coisas nossas, letras amordaçadas e caracteres pouco nítidos na projecção do racional que se perdia. Seguro-o e olho-te espectadora de mim, as tuas pernas tinham necessidade de tocar uma na outra, os teus dedos procuravam aquele poço delicado onde se toma fôlego e preciso de me reler e te ler, beijar os cândidos espinhos que outrora protegeram rosas e recolher as pérolas ou procurar sabores novos....prazeres redobrados ....fala-me, diz-me....toca-te....escreve-te, imortaliza-te, imortaliza-me...mostra-me...
Somos espectadores silenciosos de nossos próprios desejos. A mente é um sítio estranho onde me despes, me olhas e te desejo. Não há regras, só volúpia, não há razão, só tesão, no gosto acre da conquista da liberdade de me expor For Your Eyes Only, ..Nu sem cheiro de perfume que me mascare, sem anel que me castre.
Páginas e páginas escritas, bolotas aos teus olhos transformadas em pérolas Universais. Aproximas-te silenciosamente, pedes só com o olhar para segurar nele....finalizar.
Evito...Tenho tanto para te dizer, para escrever...consentes, mostras-me a humidade dos teus (nossos) actos na ponta dos teus dedos, conduzes a minha boca à fonte eterna do teu prazer, onde brota o teu desejo em gemidos contidos....matas-me a sede e convidas-me a entrar...por favor magoa-me...peço perdão meu amor e só então finalizas...


sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Desculpa Se Sou Puta -Parte 1 - Capítulo 11


"O corpo é cama de odores almiscarados,
caminho de dedos, de medos, de descobertas...
É piano de palavras, pauta de gemidos, batuta dos sons
disfarçados de promessas quentes segredadas nos ouvidos...
É toque de mãos intranquilas, ardentes, ansiosas,
nervosas que se encontram e se encaixam.."


Depois de praticamente ter sido raptada numa operação de charme de P, para um suposto jantar a três, deixando a minha mãe convicta de que estaria em boa companhia e livre de tarados, eis que ele estaciona tranquilamente o Ford cinzento diante de um hotel  de aspecto requintado bem no centro da cidade.
Obviamente que tinha consciência de que se podia jantar nos Hotéis mesmo não estando lá hospedado, mas por qualquer razão não me parecia que fosse esse o caso.
P tinha feito o percurso sem proferir qualquer palavra, à excepção de um "estás bem?". nem tão pouco fizera qualquer esforço para justificar a sua ausência durante todos aqueles dias. Ele limitava-se a conduzir, como se de certa forma tivesse a certeza de que eu sabia para onde me levava e a verdade é que eu não fazia a mínima ideia, mas também nada perguntara.
Dado que ele podia dar-se ao luxo de nada dizer eu entendi igualmente que ele não precisava de saber da existência de V nem tão pouco o colocar ao corrente de que desabafara com ela sobre nós. Há coisas que uma mulher deve reservar apenas para si, sobretudo se se tratar de um plano B qualquer.
Assim que saímos do carro, dirigiu-se ao porta-bagagens tirando uma mala e sem perder tempo estendeu-ma:
-Esta é a tua mala!
-Para que preciso de uma mala para jantar?
-Não precisas, mas eu quero que a leves.
-Porquê?
-Porque sim.
O tom de autoridade da sua voz, próprio de quem sabia o que fazia convenceu-me e surpreendeu-me que ao pegar na mala ela estivesse leve, como se estivesse vazia.Se por um lado era agradável transportar algo com pouco peso, por outro lado deixava-me intrigada e de certa forma ansiosa. Aliás, até esse momento todo o comportamento dele era dúbio, intrigante e misterioso e eu, na penumbra dos meus catorze anos estava deliciada com tudo aquilo. Adorava que ele se apresentasse assim, misterioso e charmoso. Adorava a sensação de não saber o que poderia esperar, de não imaginar o que quer que fosse que ele tivesse pensado ou preparado para mim. Nós miúdas amamos mistério!
Sem me dar qualquer explicação, segui-o até ao balcão do Hotel, onde levantou as chaves de um quarto e tranquilamente levou-me até ao elevador e daí até ao quarto.
A surpresa aconteceu segundos depois, quando após ter colocado as malas cuidadosamente na cama , sentou-se pesadamente na mesma e encarando-me com um rosto preocupado, solicitou:
-S preciso de ti!
-Como assim?- Perguntei nervosamente.
-Sabes que trabalho em multimédia. Isto é, sou dono de uma empresa de serviços multimédia e neste momento passo por algumas dificuldades.
-Sim e?
-Acontece que tinha uma encomenda importante para um video a pessoa que ia participar nesse video não pode estar presente.
-Não estou a ver o que...
-Por favor, deixa-me acabar. Como te disse é uma encomenda cuja contrapartida financeira é aliciante e estou em cima do prazo. Uma vez que já não posso contar com a minha modelo habitual, pensei em ti.
-Modelo... Modelo de quê?
Nunca tinha visto P tão abatido. Parecia que carregava um enorme peso sobre os ombros e até a voz habitualmente autoritária era agora de suplica.
-Entende, eu vendo o que me pedem. Faço o que posso por manter uma certa integridade, mas vivo de encomendas.
-Mas eu não tenho corpo de modelo.
Ele passou as mãos pelo cabelo, num gesto de desespero e respirando fundo, concluiu:
-Desculpa. Pensei que podia contar contigo mas compreendo agora que era pedir demais. Se a miúda com quem habitualmente trabalho não estivesse indisponível...Bom, acho que vou ter que sair e procurar alguém.
A  simples ideia dessa noite acabar prematuramente ali nesse momento colocou-me em choque. Havia esperado tantos dias para o voltar a ver e subitamente não poderia me dar ao luxo de voltar já para casa. por outro lado, se ele me levasse tão rapidamente a casa a  minha mãe iria com certeza achar que eu havia aprontado alguma e seguir-se-ia um questionário interminável e eu não estava com pachorra para essas merdas.
Encostei-me à parede e sem pensar atirei:
-Ok, ao certo que esperas que eu faça?
Metodicamente ele pegou na mala, abrindo-a sobre a cama e pegando no que parecia ser um fato qualquer em latex e entregou-me:
-Para já precisava que vestisses isto!
-Se me servir...
-Acredito que sirva.
Lancei um dos meus sorrisos irónicos:
-Queres que me vista aqui?
-Não. Usa a casa-de-banho, pois prefiro ver no fim. Chama-me quando estiveres pronta.
Encolhi os ombros. apertei a peça de roupa, como controlando certa raiva e num encolher de ombros preparei-me para a tarefa, não sem antes ouvir uma ultima ordem:
-Não uses roupa interior.
-Oh Deus! - Murmurei inquieta à medida que porta de W.C. se fechava.

domingo, 21 de julho de 2013

Desculpa Se Sou Puta -Parte 1 - Capítulo 10


"A sobriedade porém não gosta de aventuras, mas ninguém é estupidamente sóbrio a este ponto...
Conto os dias que nos separam.."
Inês Dunas: http://librisscriptaest.blogspot.pt/2012/07/ode-aos-desamores-ridiculos.html


O mundo não acabara repentinamente nem a minha vida levara qualquer volta pelo simples facto de ter contado detalhadamente à minha melhor amiga o meu envolvimento com P. Pelo contrário, julgo mesmo que me  aliviara do desconforto da ausência de notícias dele.
Os dias passavam penosamente longos, entre aulas que nunca mais acabavam e discussões intermináveis com a minha mãe. No fundo, era um forte regresso à pura rotina dos meus dias, a um existir penoso onde nem sempre havia uma mísera nota de 5 euros no bolso para afogar os meus dilemas e dramas em gomas.
O ostracismo a que ele me lançara começava lentamente a penetrar nas falhas do meu escudo emocional e qual Ser com vida própria ameaçava causar estragos a todos os níveis.
A minha confiança descia vertiginosamente no ritmo dos ponteiros das horas e já nem a série Glee me fazia sorrir. Tendia, nestes últimos dias a aceitar a versão de V. de que tudo não tinha sido apenas um divertimento para P e que e facto não tinha qualquer importância para ele.
Resistira até então à vontade de me baldar às aulas e plantar-me à porta de sua casa, exigindo explicações, mas de certa forma, inconscientemente temia ser confrontada com o regresso da Senhora P e então não poderia mais voltar a sonhar. Lutara igualmente contra a vontade de aceder ao Skype e procurar sondar a minha amiga de infância e por sinal a filha de P sobre tudo o que ela me pudesse acrescentar sobre ele.
Pois, resistira a tudo isso e a verdade é que nada de interessante essa resistência me trouxe. Não houve prémio de bom comportamento ou recompensa para a minha paciência.
A verdade era fria e dura para mim. P cortara-me da sua vida ou de certa forma eu havia perdido o interesse para ele e este era um cenário que me transtornava de sobremaneira. Ninguém gosta de ser colocada a um canto, muito menos uma jovem de 14 anos que achava ser mulher.
O pior de tudo, era o recalcamento diário expresso no olhar de V sempre que estávamos juntas e o assunto vinha à baila. Era doloroso admitirmos que estávamos enganadas
Foi com surpresa quando ao descer as escadas do meu quarto, após ter tomado um demorado duche, ouvi a voz dele. O mesmo timbre pausado, monocórdico mas com repleta autoridade. Atarantada encostei-me à parede, como se tivesse levado um estalo com uma intensidade incalculável e tivesse de ter cuidados médicos. Subitamente o coração batia-me sem controle no peito, as pernas tremiam-me e não conseguia respirar. O que raio fazia ele ali? Como podia ele estar a falar com a minha mãe?
Os sons da conversa chegavam-me em espasmos incontroláveis, numa cacofonia que o meu cérebro não conseguia distinguir. Era como se eles estivessem a falar numa língua incompreensível e eu tivesse os ouvidos cheios de água.
Na verdade, para mim naquele momento, nada daquilo me fazia sentido. Ele não conhecia a minha mãe, a minha mãe não o conhecia e era assim que tudo deveria continuar....Ou será que se conheciam?
Bom, de qualquer forma ele não seria louco a abrir o jogo, pelo menos não com a minha mãe e veio-me à cabeça algo que V me dissera: "Se houver merda, lembra-te sempre que o pedófilo é ele. Faz-te de vítima!".
Ganhando coragem, sob esse ponto de vista desci as escadas, embora ainda controlando as pernas que ameaçavam ceder a qualquer instante.
Ao fundo das escadas, ao virar para a sala dei com o sorriso dele de frente. Tranquilamente sentado na cadeira que em tempos tinha sido ocupada pelo meu pai, tendo a minha mãe optado por se sentar no sofá perto dele, também ela me sorriu o que motivou logo o meu sorriso de escárnio:
-Fartei-me de te chamar! - Atirou ela calmamente.
-Sabes que tomo banho sempre com o rádio alto.
-Claro, tens essa mania de quereres ficar surda muito cedo.
-Não é mania, tu não percebes nada. - Ripostei sem tirar os olhos dele.
-Sabes quem é este senhor?
-Sei. - Respondi nervosamente.
-Ele veio te convidar para jantares com eles hoje.
-Eles? - retorqui sem pensar.
-A filha e a esposa claro.
-Ah....Claro!
-Espero que não leves a mal, mas a minha filha não tinha o teu número...- Ele resolveu entrar na conversa.
-Não tenho telemóvel.
-Ah não? Isso é raro nos dias de hoje.
-Oh eu não deixo. Sabe, os jovens de hoje têm a mania que são independentes, que são donos do seu nariz e há muitos perigos. Eu tento proteger S o máximo que posso.
-Perigos? - Sondou P com malícia.
-Absolutamente. Eu leio nos jornais sobre os perigos de internet e telemóveis.
-Treta. Ela não que que fale com o meu pai ás escondidas. - Provoquei num tom de escárnio.
-S, sabes bem que não é verdade...
-Mas o telemóvel pode ser importante se ela precisar de falar consigo.
-Comigo? - A minha mãe soltou um risinho trocista- Mais depressa pedia ajuda a um estranho que à própria mãe. Sabe ela está naquela fase...
-Oh compreendo! - mentiu ele.
-Certamente que passa pelo mesmo com a sua filha?
-Certamente que sim. - Respondeu com indiferença.
-Bom e posso ir jantar ou até isso estou proibida?
-S que ideia estás a dar a este senhor? Alguma vez te proibi de visitar amigas?
-Não.
-Vês!
-Porque vou sempre sem te pedir...
-Esse teu feitio! És igualzinha ao teu pai!
-Quem me dera...
-Se continuas com essa atitude minha menina, não vais a lado nenhum durante anos...
-Típico...
Antes que o ambiente fervesse ainda mais P ergueu-se rapidamente da cadeira  e sempre de sorriso firme , deu-me o braço enquanto se apressou a esclarecer a  minha mãe:
-Tenho mesmo de "raptar" a sua filha, pois já se está  a fazer tarde e temos gente à espera. Espero que de facto não se importe.
-Oh não. Até porque amanhã é Sábado e não há escola.
-Muito bem, eu prometo que a venho trazer cedo.
-Tudo bem...Eu deito-me sempre tarde.
Por uns segundos deu-me a impressão que a minha mãe estava a fazer olhinhos a P:
-Vamos ou não! - Explodi em fúria.
Antes que a minha mãe reagisse praticamente arrastei-o para fora de casa, desejosa de uma explicação para tudo aquilo. Assim que entramos no carro, ele sorriu abertamente:
-Não foi difícil.
-Onde vamos? - Inquiri ainda furiosa.
-Jantar.
-Ah não, nem em sonhos me vais levar a jantar com...
-Tontinha. Somos só os dois.
-Ah...
Repentinamente a minha vida voltara a fazer sentido!



Desculpa Se Sou Puta -Parte 1 - Capítulo 9







Há dias assim, em que o mundo cheira diferente
e a gente acha que tudo encaixa, até nós...
Num profundo estado embriagado absorvemos a vida,
felizes, inocentes, crentes..

Inês Dunas :This Thief
http://librisscriptaest.blogspot.pt/2013/06/thieve.html


Penso que de certa forma, todos nós temos amigos e conhecidos, pessoas que invariavelmente circulam à nossa volta, como planetas ao redor do sol. Tal como esses planetas, todos esses amigos e conhecidos são diferentes, uns mais frios, outros mais distantes, alguns mais interessantes que outros e de certa forma para muitos deles, sinto-me um sol, uma fonte luz. Não que seja particularmente uma expert em relações, longe disso aliás, mas a minha maneira de estar e ser, contrariamente ao que a minha mãe afirma, por vezes cativa.
Por outro lado, se sou geradora de luz e confiança, necessito igualmente de me recarregar, como uma bateria de telemóvel e é precisamente aí que entra a V.
Apesar de ser uma amizade recente, V era uma grande amiga, daquelas pachorrentas, sempre certinhas, sempre com um aviso sábio num sorriso aberto, sempre atenta e sempre disposta a perder cinco minutos para me ouvir. Nem sei ao certo como a nossa relação começou- O que sei é que como um Íman poderoso, ela me atraiu com o seu ar neutral, com a face serena que sempre irradia paz a quem a olha.
Pouco a pouco, foi coleccionando todas as minhas desventuras familiares, o meu drama com a separação dos meus pais, o meu desinteresse por tudo, sobretudo pelas aulas.
Para\além de ter o condão de me acalmar e aconselhar V era igualmente  a "mana" mais velha dois anos e com uma cultura brutal para a idade. Basicamente ela sabia um pouco de tudo, uma espécie de enciclopédia ambulante e não, não era uma caixa de óculos armada em sabichona. Aliás, só descobri que afinal V era humana e mortal, quando chumbou a matemática e de certa forma, por uma vez senti-me bem a saber que também ela podia chumbar nos mesmos testes que eu. V Era loira, do mais louro que vi, bastante alta e sardenta. Para além do mais, tinha uns olhos pretos muito redondos, muito abertos, que motivava a alcunha de "Lady Fish". Sim, a escola era um sítio terrível para quem era diferente.
Mas ela não se ralava muito com isso, penso inclusivamente que até achava piada à alcunha, seja como for eu estava com um enorme dilema e nesta idade, apesar de não haver teorias cientificas que o comprovassem, sabia de fonte segura que os dilemas poderiam criar AVC`S em jovens (tinha visto algo do género num canal por cabo).
Poderia eu contar a minha nova aventura a ela? Poderia eu abrir-me ainda mais, com quem até então partilhara tudo da minha vida? Nós miúdas, precisamos de ter os nossos segredos, mas se há algo que aprendi é que convêm ter alguém por perto que saiba do que se passa, no caso de dar merda.
Durante dois dias em que não vi, ou tive notícias de P matutei neste dilema. Precisaria de V, ou simplesmente esconderia dela também este segredo?
Mas, se eu escondesse dela a minha relação (porque realmente achava,na minha inocência que era isso que eu tinha com ele), não estaria a admitir, embora inadvertidamente que a nossa relação não era tão natural assim e que na verdade, ser a gaja de P. era mais uma vergonha que uma virtude cantada e exaltada aos quatro ventos?
Ser uma jovem liberal, neste Mundo cinzento era de facto o cabo dos trabalhos. Decididamente teria que contar a ela e logo veria a sua reacção. Pois a verdade é que estes últimos dias tinham sido diferentes, tinham sido uma lufada de ar fresco e de certa forma tinha-me esquecido completamente do drama da separação dos meus pais. Até dava por mim muito mais interessada no que vestia, e na escola. Repentinamente a escola não me parecia tão infernal assim.
Decidi avançar, afinal V era a minha melhor amiga e se tudo corresse como esperava, iria ser igualmente útil para mim desabafar e falar de P. com alguém e ela era de facto a pessoa ideal. Teria contudo de ter algum cuidado na abordagem do assunto, pois se algo a minha amiga tinha era um cinismo apurado e regra geral, um ódio de morte por relações amorosas, ( nunca me contou o porquê, mas parto do principio que tal se deve a ter tido algum desgosto).
O plano foi orquestrado mentalmente na aula de físico-química nessa manhã e calculado ao pormenor. Só havia uma oportunidade para estar tranquilamente com ela e teria de ser na cantina à hora de almoço, pois tanto eu como ela éramos as duas únicas almas impedidas de sair da escola para comer algo nos cafés circundantes, visto tanto a minha mãe como a dela serem autênticas lunáticas que calculam existirem tarados e psicopatas assassínos em todas as esquinas , mas que fique bem claro que nós demos luta e ainda damos nesta questão, embora saibamos de antemão que tal questão só ficará resolvida com a maioridade, a menos que...Bem isso serão outras lutas.
O facto é que o impedimento de sairmos funcionava como uma causa aliada e era sempre mais fácil ter os ouvidos dela despertos na raiva imensa de se sentir prisioneira.
Cuidadosamente encenei a minha actuação, evitando frases feitas ou o espalhafato de Teen histérica, ( tudo coisas que ela odiava).
Mordiscando uma sandes com pasta de atum, atirei:
-Pstt, tenho News para ti.
-Então?
-Algo bastante recente...
-Drama caseiro? - inquiriu franzindo o sobrolho, o que alargava ainda mais o olho.
-Népia. Tudo na mesma lá por casa.
-Então?
-Conheci um sujeito...
-Continua. - Ela esboçou um sorriso rasgado.
-Bem foi repentino, praticamente foi do nada e ....bem foi uma cena marada.
-Conta-me!
-Foi há alguns dias...Lembras-te que faltei as aulas de manhã?
-Sim,mas disseste que estiveste de cama com gripe.
-Não. Inventei isso, desculpa.
O sorriso dela apagou-se repentinamente do rosto, pois odiava que lhe mentissem e pior ainda que eu lhe mentisse, mas estava disposta a ser o mais sincera com ela agora:
-Não podia te contar a verdade, não estava preparada para o fazer.
-Preparada? O facto de teres um namorado novo é assim tão grave que precises de te preparar? - O tom de voz dela subiu ligeiramente.
-Mais ou menos.
-Ok, conta-me tudo agora. - Disparou ela após uns minutos de silêncio.
Contei-lhe o que se passara, a minha entrada no carro, a nossa ida a sua casa e não omiti qualquer parte do que me lembrava que se tinha passado na casa. V estava visivelmente incomodada e algo transtornada.levou alguns longos minutos até conseguir digerir todo o diálogo:
-Em suma, que idade ele tem?
-Não faço ideia.
-Idade para ser teu pai?
-Sim, creio que sim.
-Merda. Deve ser um tarado. Em que merda te foste meter?
-Não é tarado, eu conheço-o.
-Mesmo assim, a diferença de idade...
-Não me fales em diferenças de idade. Eu vejo isso pelo meu pai e a outra lambisgóia
-Mas é diferente.
-Porquê?
-Porque és menor. Foda-se S tens apenas 14.
-Um número apenas. Não és tu que dizes sempre que a idade é apenas um pretexto da sociedade para nos condicionar?
-Sim, mas não nesses assuntos.
-Mana, não há assuntos assim ou assado. Eu amo-o e ele ama-me. Podes viver com isso?
-S. só tenho receio que possas estar a ser vítima de um tarado.
-Pareces a minha mãe!
-Olha, eu curto-te muito, a sério que sim. Mas por favor, não me peças para entender isso tudo.
-Terás que o conhecer.
-Ok, se isso te faz feliz.
A crispação e o nervosismo tomaram, como eu esperava um enorme espaço entre nós, mas eu acreditava que assim que ela conhecesse P iria entender que ele era genuíno.
O que não poderia saber é que V que era a minha melhor amiga iria ser puxada por mim, para a merda.


domingo, 16 de junho de 2013

Desculpa Se Sou Puta -Parte 1 - Capítulo 7-Revisão





Há uma mágoa que me atravessa como água,
preenchendo os espaços todos...
Não quero passar por aquilo outra vez,
mas talvez o sofrimento se queira passear por mim...

Inês Dunas: A Fábula da Bela Adormecida e da Cobra

A. guardou cuidadosamente o telemóvel no bolso direito do casaco e sem pensar duas vezes, acelerou o passo para o exterior do recinto da escola. A chuva abrandara e a mensagem que recebera de S. tivera o condão extra de a desassossegar.
Por um lado ficara aliviada por saber que a sua amiga estava bem, ou pelo menos a ser acompanhada pela experiência médica do seu pai, mas por outro lado o saber que ela estava em casa com o pai, os dois sozinhos não lhe caíra bem.
Claro que ela amava o pai e depois da morte da mãe, quando ela ainda tinha dois anos de idade, a única pessoa com quem podia contar era de facto o pai. A ele, de certa forma lhe deve os primeiros passos, os primeiros sonhos, as primeiras palavras, os primeiros sorrisos rasgados. Não negava que P. sempre tinha estado presente, sempre se mostrara realmente interessado em quem ela era e no que ela queria e sempre lhe dera o apoio que qualquer criança na fronteira da adolescência necessitava. Na verdade, de todos os pais do mundo que lhe poderiam ter calhado, jamais alguém seria assim tão perfeito aos seus olhos como P.
Mas depois havia o outro lado, aquela parte desconhecida do pai. Como se de um outro Ser se tratasse. Como se no fundo, o homem fosse uma balança com dois pratos de atitudes diferentes e teria que gerir o claro e o obscuro com mestria. Às vezes, concluiu ela a entrar para o metropolitano, os dois pratos, as duas metades reagem de forma diferente, criando um desnível que de certa forma permita que o pior de nós se revele. E se esse desnível suceder que aconteça apenas na intimidade de um lar, entre os dois, de forma a evitar julgamentos de valor de outros.
Isso recordava-lhe um certo dia, há bem pouco tempo atrás. Não sabia ao certo como seriam os outros pais, mas sabia que quando se ia deitar e nos dias em que P. estava de folga, ele se entregava aos seus demónios, na companhia de vários copos de Whiskey, perdido no seu escritório, sentado á frente do monitor LG.
O escritório que ele montara em casa, não era um consultório, nem uma extensão da sua actividade profissional. Era, concluiu A. enquanto subia as escadas da estação de Metro em direcção ao exterior, o seu refúgio, o abrigo do seu lado negro. No fundo, a expiação dos seus pecados mais secretos. Era igualmente a única divisão de casa vedada qualquer pessoa, ela incluída. Algo que de início ela não entendia, bem como não compreendia o porquê não só de ele fechar sempre a porta à chave quando saía, bem como só se fechar lá dentro após ela ir para o quarto. Poderia ele assumir que o seu “turno” de pai tinha terminado ou seria algo mais egoísta, algo de diferente que ele jamais pudesse partilhar.
Ora durante algum tempo aquela divisão exercera nela o secreto fascínio de algo que tinha de ser explorado e um dia a curiosidade foi a sua conselheira. A recordava-se perfeitamente desse momento, numa quente noite de Julho quando após se despedir de P. e supostamente se deitar, aguardou até que ele se fechasse no escritório, para então pé ante pé caminhar até à porta da divisão, ajoelhar-se e esperançada de que o pai cumprisse a rotina e retirasse a chave para o bolso, espreitar pela fechadura de modo a poder descortinar algo de concreto.
Era um tiro no escuro, dado a secretária não estar na direcção da porta, mas era a única coisa que lhe restava naquele momento de modo a saciar a curiosidade e nesta idade a curiosidade era algo que tinha de ser satisfeita, sem qualquer remorso ou receio.
Nesse dia e para surpresa sua, tudo correra de feição, no seu plano de improviso. Por qualquer razão, os astros alinharam-se favoravelmente às suas pretensões e os seus pequenos olhos cinzentos tragaram de uma vez as imagens que lhes chegavam em bruto pelo buraco da fechadura. Sorveu-as como pode, evitando perder qualquer segundo. Concentração, foco e ansiedade no pêndulo dos minutos que permaneciam imutáveis no tempo, congelados na rotação eterna do planeta. De joelhos e só de short e T-Shirt ela assistiu a uma cena que jamais esqueceria. A um espectáculo minimalista e que de certa forma a marcara na sua tenra idade.
O pai encontrava-se em pé, diante da porta, mas virado de lado, agindo como se mais alguém estivesse presente, o que ela sabia ser impossível. O campo da visão de A. do ponto onde se encontrava incidia exactamente sobre as calças de fato treino a baixarem revelando um mastro hirto e a mão dele segurando-o.
Ela sabia que as calças eram a indumentária favorita do pai, nos serões nocturnos, sobretudo quando este estava de folga. Sabia igualmente que ele as evitava usar na sua presença e agora ao ver o estranho ritual do progenitor percebia tudo.
Ajoelhada com as palmas das mãos coladas à porta, atenta ao que observava pela fechadura, na ânsia de não perder pitada, cometeu um erro básico próprio da excitação do momento. O seu pé escorregou levemente, fazendo-a desequilibra-se e embater com a testa na porta, alertando o progenitor que percebeu que não estava sozinho.
Com um arrepio, mas não propriamente de frio, A. entrou para o elevador enquanto tinha presente o som do pai a abrir a porta, ela a retirar-se para o quarto em passo desgovernado, com o coração aos saltos no seu peito, como se no fundo tivesse esperado que o pai não reagisse.
Mas o pai reagiu e de uma forma que a espantou, avançando pelo pequeno corredor, ajustando as calças, a ferver de raiva e não de vergonha e a entrar de rompante no quarto:
-Levanta-te. – Ordenou ele com voz de trovão
Ela obedeceu não se dando conta que a única pessoa envergonhada naquele quarto era ela e de nada tinha adiantado atirar-se para dentro dos lençóis na expectativa que ele não viesse.
À sua frente P. mantinha-se tenso como se de certa forma esperasse uma agressividade de A. que contudo nunca aconteceria. O volume nas suas calças de fato treino cinzentas era perfeitamente visível e ela segurando as lágrimas como pôde evitou olhar.
-Era isto que querias ver? Era isto que pretendias? – Gritou P. apontando para o volume nas calças.
-Eu…Eu só queria saber o que estavas a fazer! – Gemeu ela soluçando.
-Quantas vezes te disse que aquele escritório é meu e apenas meu!
-Várias. – Concordou já chorando.
-E no entanto tu não resististe!
P. não a deixou responder, aproximando-se dela, passando a mão na face dela. A. sentia a fúria dele naquele gesto tão pouco habitual no pai e arrependida por o ter irritado recomeçou a soluçar:
-Muito bem, se querias ver tudo, não te vou privar disso. Verás em exclusivo!
P. baixou as calças, a única peça de roupa que mantinha, exibindo o seu sexo erecto para logo de seguida passar a mão pela T-Shirt de A. que não reagiu, evitando olhar para o progenitor.
-Tira os shorts!
O membro erecto tremia de excitação na mão dele.ao mesmo tempo que ela exibia as calcinhas rosa. Sem proferir qualquer palavra P. apertou-lhe ligeiramente o seio esquerdo, substituindo no seu membro a sua mão pela mão dela. Orientando-lhe os movimentos que pretendia. Segundos depois largou o seio, agarrando-a pelos cabelos, sem contudo os puxar em demasia e forçou-a a contemplar o sexo com veias salientes prestes a explodir.
Com uma curta pausa, ele virou-a de costas, deitando-a de barriga para baixo na cama e após um curto gemido, ela sentiu algo quente a cair nas calcinhas. Não precisou contudo que lhe explicassem o que seria, nem soube por que razão o pai a poupara de tal visão, mas manteve-se imóvel, de olhos encharcados e os cotovelos enterrados no colchão, com vontade de desaparecer.
Sem acrescentar qualquer som à situação, o pai tirou-lhe com extremo cuidado as calcinhas e limitou-se a dizer:
-Quando voltares a ter a curiosidade, eu já tenho algo para te mostrar.
E saiu do quarto, num passo sereno sem emitir qualquer outra afirmação, deixando nela a certeza que tal jamais se repetiria.
Abrindo a porta de casa, A. congratulava-se de certa forma por ter sido a única vez que tinha presenciado na figura do pai, alguém que ela nunca conhecera e esperava ela nem voltaria a ver.
Sorridente A. entrou na sala, onde P. estava sentado e subitamente reconheceu a mesma face dura que vira nesse dia. Esforçou-se por se controlar temendo o regresso do pai mau. Caminhou vagarosamente até à sua presença , como que implorando que um Dejá vu desagradável voltasse e contemplou a chorar abundantemente as calcinhas de S. pousadas no sofá.

-Meu Deus ele voltou!